segunda-feira, 31 de março de 2008

JogodoECOsaudadeSaudadeEquaDOR

Sinto sua falta
Complexa falta
Sem juiz na entrada da área
Sem zagueiro matador.

Sinto sua falta
Penalidade máxima
Sinto tanto
Sinto, chega á dor...

Ponto branco estraga o verde
Marca o campo
Cria o jogo
A bola rola
Toque Vitória
Gol me entalou.

Volto as memórias
Na saliva há história
O paladar me contou,
Que está longe
Tão longe da linha do gol
E do Equador

quarta-feira, 26 de março de 2008

e numa mesa de bar...

sabe que ninguém a ouviu.
riu sozinha.
todos sorriam mesmo!

sabe que a havia reparado (mas só).
sentiu sozinha.
todos sorriam mesmo!

um brinde!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Ponto.

"eu mesma/ diluída e mínima/
no dissoluto de toda despedida."


Hilda Hilst, Amavisse

sábado, 22 de março de 2008

10

Esse processo do café da manhã é doloroso, nunca acerto o açucar. Você não gosta do meu café. Naquela manhã não precisamos, pois a noite se prolongou. Chegamos tão juntos e tudo se fundindo, você me ama, tenho certeza que me ama, e se já não está mais aqui é porque... Não me interessa porque, já que você está voltando, faltam apenas alguns metros e umas poucas braçadas, eu posso sentir com meus olhos invisíveis. Naquela manhã, lemos poemas na cama e seu olhar generoso, nenhuma fúria, nada de pressa, tudo devagar, escorregando entre os panos, fora deles, perfeito. Aqueles poemas e você ouvindo. Você ouvia? Amor na ponta dos dedos, na ponta da língua. Amor de ponta, pois sempre fomos modernos, atualizados, sabemos de tudo. Do que se fazia antes, do que tem de novidade nos livros. Em matéria de sexo, acho que a literatura oriental é mais didática. Você se preocupa muito com a performance. Eu não. Não faço roteiros para uma noite de amor. Nunca dá certo, sempre tropeço no texto, não sei nada de cor. Tudo na minha vida é inventado, inclusive você. [a.v]

9

Não consegui entender ainda se as escolhas traçam o destino, ou são só o caminho do destino já traçado? Não no meio do caminho, não, fui eu quem escolheu você, caminho que escrevi. Quando no calor da saliva optei, eu e os peixes daquele lago e os dejetos daquele lago e a alquimia naquele lago, transformando o sapo sujo na luminosa libélula. Não sabemos se é totalmente limpa, mas é leve, flutua no ar e em décimos de segundos suas asas transparentes. Dizem que ela tem poder. Creio, hoje creio no poder dos casulos, das formigas e das libélulas. Fui liberto pelas enzimas digestivas da sua saliva e o bater das asas das libélulas. Sabe, são as paixões. [a.v]

8

Sabe, você move minhas paixões. Não há mais espelhos por aqui e o gosto da pasta de dente me enjoa. Pela manhã, essa luz morna não ajuda em nada. Começa a me assombrar a memória das seringas. Sempre fui muito independente, não gosto que ninguém faça nada por mim, eu mesmo me pico. Minha mãe não gostava de ouvir, ela não enxergava as velhinhas, mas estavam todas lá. Tão boazinhas, com aqueles xales coloridos e os cabelos branquinhos, branquinhos, cantando para me fazer dormir. Não chore, mamãe, elas são boazinhas, me fazem muita companhia. Acho que agora já podem me soltar, quero voltar pra casa e terminar o agasalho dele, o inverno este ano promete. E você sabe, sou movido a paixões. [a.v]

7

Sabe? Sou movido a paixões. Chegou um dia em que eu não conseguia mais sair de casa. A rua me dava calafrios e eu passava muito mal, meu corpo todo doía e eu saí e eu paralisado, as pessoas olhando para mim e não lembrava mais o número do telefone. Depois que desmaiei encharcado de suor gelado na avenida, todas as lembranças me abandonaram por um tempo. Acordei e era outro, um que não sabia de nada, que catava guimbas do passeio, sem nenhum pudor, sem memória do corpo, do sentido do corpo, da mágica do corpo. Básico, totalmente básico. Você se lembra quantos anos eu tinha? Andava carregando galhos, arrastando latas e todo tipo de trapos, atrás de meninos perdidos que flanavam sobre as ruas embriagados, até que vi você na praia com ela. Nos primeiros segundos ainda não havia consciência de nada, pareceu-me um anjo. Era ela a minha chave para o céu. Senti restaurarem-se todos os espelhos que quebrei. Encharcado de suor gelado desmaiei e levantei e fiquei ereto e olhei em volta e cuspi e aqui estou eu acordando animado, nesta manhã de saudade da sua língua em meu ouvido... [a.v]

6

Mas você me ama tanto que não atende mais aos meus telefonemas, sei que é por isso. Não quer mais me ter porque tem medo de me perder, não é? E se eu cansar, como é que vai ficar você? E se eu morrer, quem é que vai consolar você? Faz isso para se proteger de você mesmo. Agora ouça: Eu sou sua Insanidade e sua Graça, não vou abandoná-lo, pode atender. Esse nosso amor às vezes é como a vida, dói. No dia em que eu morrer, como já lhe disse, tudo vai estar no lugar. Eu mesmo quero escolher a roupa, o perfume, a maquiagem, tudo. Vou dar um jeito de ficar bastante bonitinho, pois mamãe, naturalmente, estará muito triste e ela não gosta de me ver desarrumado. [a.v]

5

Você sabe, sou movido a paixões. Fiquei envergonhado, como podia sentir aquilo, pensar, desejar todas aquelas coisas? Corri então para o lago e mergulhei, ninguém conseguia entender, acharam que talvez fosse só uma brincadeira, pois suicídio não era, sempre nadei muito bem. O lago era grande e dei muitas voltas, cinco mil metros, talvez. A cada braçada ia me livrando de você, da sua língua, seus versos úmidos cheios de desejo e seu olhar me queimava de longe. Sabia sim que você me olhava e batia com força as pernas e aumentava o ritmo das braçadas. O movimento do corpo na água agitava as coisas que descansavam no fundo e comecei a esbarrar em galhos e algumas plantas me envolviam e meus braços foram ficando dormentes, minha cabeça confusa, não sentia mais as pernas e percebi que não respondia mais por mim, agora era escravo da sua língua. Ninguém entendeu nada. [a.v]

4

Quando eu era menino, minha mãe arrumava meu cabelo antes de irmos para a igreja. Eu tinha pânico daquele altar. Observava muito todos os insetos, colecionava formigas, cigarras secas, vaga-lumes (joaninha, coração de Cristo em cada pintinha e a poesia relegada a outro dia. Acolho-te nesse vidro de maionese, minha doce joaninha, patética lembrança da perecibilidade dos cristãos e dos insetos. Não farei buraquinhos na tampa, se vire com o ar que tem aí dentro). Mataram o Cristo de um jeito tão (eu horrorizado olhando aquela cruz com todos aqueles espinhos pendurados na cabeça) horrível (e mamãe absorta na reza do terço), sórdido (e as joaninhas andando dentro da minha blusa). [a.v]

3

Aconteceu um dia de ele lamber minha orelha, assim do nada, em público e foi dramático cheio d'água e saliva e enzima digestiva. Não entenderam nada. Tudo gratuito, desnecessário. Talvez não pareça uma passagem importante, não mereça nem relato, mas senti que dez metros são diferentes de dois centímetros. Foi um segundo, previ tudo. Naquele dia comecei a adoecer. [a.v]

2

A morte, como você, sempre me intrigou. A morte vai fazer com que eu me separe da lembrança de você. Experimentei-a esta manhã e na minha infância, quando chegava a faca perto da garganta. Não queria mais ouvir, mas senti-la, o cérebro procurando por suas conexões e elas fugindo, perdendo-se. O desligamento, a morte e a teoria do desligamento. Então experimentei, quis voltar, mas jé não dava. Não foi ela quem me abraçou, foi a loucura. [a.v]

1

Como você sabe, sou movido a paixões. Decidi revelar tudo nesse fragmento, pois não suporto mais meus sonhos, acordo pela manhã com um gosto amargo na boca, parece que a noite me envenena aos poucos e o dia começa morno e sinto tanta vontade de chorar que o cobertor parece pousar uma tonelada sobre o meu corpo. Se você estivesse aqui, mas você nunca está. Querido, você sabe, sou movido a paixões. Por favor, não entenda isso como vingança. Faço por amor, no limite do amor, quando fica tudo tênue, tudo quase se desmanchando e saio da cama devagar para escovar os dentes e lavar o rosto. Não, não me olho mais no espelho. Tirei todos os espelhos que haviam por aqui. Não me reconheço mais. Estamos evoluindo, estamos sim. Não me olhe como se eu fosse outro. Nossa história não se resolverá aqui. Querido, faltam alguns centímetros, mas agora não, aqui não. [a.v]

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cinza-céu



Enfim, nós.

domingo, 16 de março de 2008

vazio não!


... e me fez lembrar que ainda há o "bom"
há música
poesia
amigos

... e se ainda navega o coração, tudo bem!
há piratas
sereias
golfinhos

... deixa a mensagem na garrafa!

domingo, 9 de março de 2008

Domingo

Anti-ontem, sou a favor de hoje. Quarta, caminhando pelo asfalto, superfície do ônibus azul royal, quarenta e oito minutos de trânsito até minha meta-casa, oito e trinta da noite. Inoiteceu e o Q.I do motorista desmoronou, me deixou no chão como se tivesse caído de um cavalo arremessador. Quinta, restam setenta e duas horas para recomeçar o ciclo polar e ainda ouço dizer que a necropsia do menino de quatorze anos foi um sucesso. Sexta, não toca na memória. Sábado, é o melhor dia antes de domingo. Domingo, escrevo um pouco sobre o Oriente Médio, antes de começar a revolução diante meu tédio.

IAA

sexta-feira, 7 de março de 2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

Desperta-dor.


Se canta pássaro e molha o chão a água que do céu vem, teu céu seca e vira luz pra fotografia rimar. Se passa carro lá fora e roupa na varanda dança, dança doce o seu que me tocar. E os pés que sentem, olhos que escutam as chaves balançar. Balança menina, balança o sono do amor que cisma em cantar.